ZANINI, Claudio Vescia. . Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4232>. Acesso em: 24/11/2024 19:32
O presente trabalho propõe analisar a construção das narrativas de terror e do sobrenatural no cinema dentro de um gênero de filmes que vêm se estabelecendo muito fortemente nas últimas décadas: o falso documentário, também conhecido como faux documentary, mockumentary ou pseudo-documentário (cf. Roscoe e Hight, 2001). Percebe-se já no horror vitoriano de Drácula a preocupação de dar a uma história assombrosa a credibilidade necessária para que ela seja aceita como minimamente possível. O romance de Bram Stoker é todo construído através de recortes de jornal, telegramas, cartas e diários de pessoas, o que reforça o caráter concreto dos fatos, independentemente da estranheza que eles causam e das forças malignas e sobrenaturais relacionadas a eles. O que se percebe no cinema, especialmente ao longo das últimas duas décadas, é uma forte tendência nos filmes de horror a trazerem em sua base aquilo que Aufdenheide (2007) chama de “reivindicação da veracidade”: A Bruxa de Blair (1999) nos é apresentado como material filmado supostamente real perdido em uma floresta; a franquia Atividade Paranormal (2007-2012) é totalmente baseada em vídeos supostamente de família ou de câmeras de segurança; o espanhol [REC] (2007) se pretende uma reportagem em tempo real, e mesmo George A. Romero, expoente maior do cinema zumbi, adotou a fórmula do falso documentário em Diário dos Mortos (2007). Este trabalho pretende olhar, a partir de uma perspectiva diacrônica, para a manipulação dos fatos e a forma como as ditas verdades são construídas e utilizadas nesses filmes a fim de aumentar a proximidade entre espectador e monstruosidade, mostrando que a separação entre "nós" e "eles" é extremamente tênue. Além dos estudos específicos sobre o falso documentário de Roscoe e Hight, servirá como base desta análise uma parte dos estudos de Jermyn e Holmes (2004) e Andrejevic (2003) sobre reality shows, além de teóricos que problematizam questões específicas da pós-modernidade, como Aufdenheide (reivindicação da veracidade), Jean Baudrillard (simulacros e simulação) e Zygmunt Bauman (medo líquido).