Este trabalho tem por objetivo central expor o andamento do projeto de pesquisa em curso sobre meritocracia versus a transmissão/reprodução da herança cultural no universo escolar. O referencial teórico utilizado na pesquisa foca no conceito de capital cultural, desenvolvido pelo autor Pierre Bourdieu (1998), constituindo o elemento da bagagem familiar que teria o maior impacto na definição do destino escolar. As análises das obras de Bourdieu (2007), realizadas até o momento, orientam para a ideia de que a posse de capital cultural favorece o desempenho escolar na medida em que facilita a aprendizagem dos conteúdos e códigos escolares. A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo distante, ou mesmo ameaçador. A partir destes estudos e de uma metodologia qualitativa, o projeto busca retomar reflexões, ainda não superadas, acerca das competências intrínsecas certificadas e legitimadas pela escola. Ao ignorar que as aptidões dos alunos não se devem somente aos “dons naturais” e méritos pessoais a escola transmite, por meio dos dispositivos de julgamento que emprega, a cultura da elite reafirmando seus privilégios sociais e legitimando a sua dominação. Assim, longe de ser uma mera disfunção organizacional ou pedagógica, o fracasso escolar aparece como socialmente necessário num sistema encerrado em relações de dominação. A cultura transmitida pela escola revela-se como legítima e indiscutível, formando assim uma face apresentada como “neutra”, portanto, dissimulando seu caráter arbitrário usando de violência simbólica em sua natureza social.