A literatura infantojuvenil se constituiu em um dos interesses de Lêdo Ivo, autor alagoano da Academia Brasileira de Letras. Reconhecido como uma “ovelha negra” da Geração de 1945 pelos temas tratados, pelo estilo perscrutador e por questionar explicitamente os agentes do campo literário (BOURDIEU, 2008), Lêdo Ivo suscitou reflexões a partir de uma postura crítica sobre o ser e o devir humanos. Analisamos o livro ilustrado A História da Tartaruga, a partir das suas regularidades discursivas, tendo por fundamentação teórica a Pedagogia Lenta, Serena e Sustentável (CARBONEL, 2016) e, na perspectiva empírica, lançamos mão a análise-textual dos discursos, notadamente a representação discursiva de tempo (ADAM, 2008). Esse livro constrói uma narrativa na qual essa representação é seu eixo estruturador, destacando-se o (mal) uso tempo, o tempo da competição, o tempo cronológico questionado, as marcas do tempo no corpo, o ciclo do tempo: dia-noite. Nesse sentido, o autor argumenta em uma perspectiva que dialoga diretamente com a Pedagogia Lenta, Serena e Sustentável, sendo a narrativa construída uma proposta de descontruir os valores negativos atribuídos à tartaruga (lentidão, preguiça, aparência de velhice) e forjar novos posicionamentos. Ao desprezarmos o tempo, pela força da urgência, desprezamos a vida. Na perspectiva de Paul Ricoeur, esse poema produz um meio de compreender a si mesmo. Disso resulta a possibilidade de constituir o letramento funcional de saúde por meio da narrativa verbal e não verbal, que se reforçam mutuamente no caso em tela com vistas ao bem-viver.