A razão e a imaginação, a ciência e o mito podem dialogar através de narrativas híbridas, propiciando intercâmbios de conhecimentos que evocam diversas construções cognitivas. A imagem fotográfica ao ser considerada como uma paisagem, que abriga campos imaginários de fragmentos visuais, propicia uma narrativa que visa à compreensão das manifestações, saberes, fazeres, entre outros aspectos que permeiam a existência dos seres vivos. Nessa dimensão, o trabalho apresenta uma possível articulação da cartografia visual, concebida por imagens fotográficas, com uma cartografia literária, expressa pelos caminhos trilhados pelos personagens do romance de José de Alencar, Iracema: lenda de Ceará. Como o cenário descrito pela pena de Alencar é o estado do Ceará, aqui se enfatiza a Serra da Ibiapaba, especificamente a cidade de Ipu, religada pelas águas, recurso este capaz de acionar memórias, imagens, outras leituras da natureza, cujos conteúdos forjam cartografias (visual e literária), a partir de seus contextos. Em 2016 foram realizados trabalhos de campo, utilizando-se de recurso imagético (fotos) e comunicação oral (diálogo com os habitantes da localidade). Embora as lendas sejam consideradas patrimônio imaterial e a lenda de Iracema perdura 151 anos, notou-se que as paisagens de Ipu revelam uma teia de patrimônios - cultural imaterial e ambiental capaz de agregar uma diversidade de leituras sobre o semiárido da Serra da Ibiapaba, evidenciando tramas sociais, culturais e ambientais. De forma que, a cartografia literária e visual se apresenta como um campo transversalizado - articulando e desarticulando as representações discursivas, simbólicas, imaginárias e sensíveis.