No Brasil, um dos dispositivos para a mudança da lógica do sistema manicomial na luta em defesa da saúde mental para as populações locais é realizado pelas ações das equipes que constituem os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) regulados pela portaria n.º 336, de 19 de fevereiro de 2002. Os CAPS deverão constituir-se em serviço que funcione segundo a lógica do território e são responsáveis, sob coordenação do gestor local, pela organização da demanda e da rede de cuidados em saúde mental no âmbito do seu território. O objetivo deste trabalho é compartilhar experiências sobre o apoio matricial das equipes dos CAPS de Aquiraz, Brasil, em parceria com as 34 equipes de atenção básica com foco no acompanhamento de mulheres com transtorno mental em situação de extrema pobreza. Utilizamos o método da investigação Ação Participativa onde as mulheres são parte central da realidade considerada, e ao intervirem, alterando-a, são vistas como interdependentes na mudança da lógica antimanicomial. Contudo, identificamos lacunas teórico-metodológicas no sentido de que é preciso atuar articulando as questões de gênero nos processos de análise da loucura e de forma específica a partir da teoria da interseccionalidade. Para tanto, iniciamos em 2023 um grupo temático que se propõe a adequar a prática do território as perspectivas de gênero e aos feminismos críticos pós-desconstrucionistas. Consideramos que a doença mental imersa na pobreza extrema, nas tarefas desempenhadas no ambiente doméstico e profissional com mulheres, mães, negras, solteiras, moradoras da zona rural de uma cidade no nordeste do Brasil, analfabetas e com baixo poder econômico, grita a necessidade de metodologias diferenciadas dos demais públicos. Como resultados principais tivemos até abril de 2024, a realização de 41 oficinas em saúde mental, 01 conferência municipal de saúde mental e 39 oficinas, a partir das demandas das políticas públicas locais e questões de gênero.