A trajetória escolar de travestis e mulheres trans é marcada por violências várias, com um percurso com muitas irregularidades, descontinuidades, experiências negativas de convivência com a comunidade escolar e, por vezes, interrupção desse percurso. Pesquisas realizadas por organizações da sociedade civil, como a AfroReggae (2013b; 2015), mostram que a população de travestis e mulheres trans possui baixa escolaridade, muitas não tendo concluído sequer o ensino fundamental, sendo a garantia deste direito uma demanda recorrentemente reivindicada no movimento social (BRASIL, 2009; ANTRA, 2022). A baixa escolaridade produz efeito nas condições de vida dessa população e a educação formal escolar ainda se apresenta como uma credencial importante para o desenvolvimento social de quaisquer pessoas, tanto no âmbito dos conhecimentos necessários para a vida quanto na inserção no mundo trabalho. Por via da escola formal, as classes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) se apresentam como uma alternativa de retorno a esse percurso escolar e de possibilidade de conclusão da educação básica. Entretanto, apesar dos avanços nas discussões acerca dos direitos dessa população e nas garantias legais asseguradas pelo Estado, as pesquisas têm mostrado que, de modo geral, as escolas ainda não são um espaço confortável para a expressão de gênero dessas mulheres trans e travestis. Mas uma experiência realizada em São Paulo, a partir do Programa Transcidadania, tem mostrado que, com o estabelecimento de parcerias intersetoriais, formação adequada de professores, sensibilização da comunidade escolar e criação de condições de acesso e permanência na escola, a EJA pode ser esse lugar para a conclusão da educação básica de mulheres trans e travestis que não puderam fazê-lo em outros momentos. Em cerca de nove anos de existência, centenas de pessoas trans e travestis concluíram a educação básica e ingressam no mundo do trabalho formal a partir das formações e condições oferecidas pelo Programa.