Estar na EJA é experimentar o silenciamento, a negação de direitos e a invisibilidade. Sob a perspectiva das cidadanias mutiladas, conceito através do qual somos levados a refletir em torno de que tipo de indivíduo nós somos, qual o modelo de educação que consolidamos e, sobretudo, a serviço de que modelo de sociedade estamos. Pensar acerca da incompletude e das incongruências que atravessam nosso cotidiano, nos impulsiona a buscar caminhos para oportunizar aos estudantes da Educação de Jovens e Adultos aprendizagens que os provoque, que os desperte do pensamento ingênuo e os lance à compreensão do mundo, se reconhecendo neste cenário enquanto sujeito de direitos. Nesse cenário emerge a demanda legítima da produção teórica dos escritos compartilhados pelos docentes e discentes da Escola Alberto Ferreira Brandão, situada em Camaçari na Bahia, no formato de Escrevivências junção das palavras "escrever e vivência", cuja força de sua ideia não está somente nessa aglutinação, mas na gênese da ideia, como e onde ela nasce e de que experiências está atravessada... encharcada e que validam as singularidades dos seus sujeitos. A escrevivência traz a experiência, a vivência da condição de pessoa brasileira de origem africana, uma nacionalidade hifenizada; uma característica presente nos sujeitos da EJA que em geral chegam à escola fragilizados pelas engrenagens sociais que marginalizam e excluem a grande massa da população. Assim, os estudantes podem a partir de suas trajetórias individuais, relatar suas vivências em suas comunidades, partilhar seus dons, suas dores e suas alegrias, registrar suas relações com o conhecimento, bem como suas impressões acerca da sua trajetória de escolarização na instituição para além da mera escrita de um registro mas, para despertar para o acolhimento das histórias dos seus pares e toda potência que ali habita.