O nascimento pré-termo (período gestacional menor que 37 semanas) corresponde a um fator de risco biológico, pois contribui para um aumento na probabilidade do desenvolvimento de um processo mórbido. Crianças nascidas pré-termo, por não terem completado seu tempo gestacional plenamente, apresentam uma imaturidade em órgãos e sistemas e tal condição pode ocasionar diversos comprometimentos à sua saúde, como os déficits no desenvolvimento motor. Assim, objetivou-se verificar o efeito da prematuridade no desempenho motor grosso em crianças de meninos e meninas de primeira infância. Neste estudo transversal e de comparação entre grupos, utilizou-se análise secundária de dados epidemiológicos, com abrangência municipal da cidade do Recife (PE). Foram incluídas noventa e seis crianças pré-escolares com idade média de 4,5 anos (DP=0,7) que formaram os grupos: Prematuro (n = 47; média da idade gestacional = 31,7 semanas, DP = 2,8) e grupo Termo (n = 47; idade gestacional = 39,1 DP= 0,9 semanas); as habilidades motoras foram avaliadas pelo Test of Gross Motor Development - TGMD-2, instrumento já validado e amplamente utilizado em estudos com crianças brasileiras que é composto por seis habilidades locomotoras (correr, galopar, saltitar, saltar o obstáculo, salto horizontal e deslocamento lateral) e seis de controle de objeto (rebater, quicar, receber, chutar, arremessar e rolar a bola). Após verificar a ausência de normalidade foram realizadas análises utilizando os escores brutos de cada uma das habilidades, os somatórios parciais dos escores das habilidades de locomoção (LOC) e de controle de objetos (CO) e a soma dos escores LOC e CO, totalizando o Quociente Motor Geral (QMG). Os dados foram analisados por dois avaliadores treinados com uma consistência entre avaliadores de 87%. Na comparação entre os grupos pré-termo e termo, os resultados mostraram não haver diferenças significativas entre os grupos em todas as habilidades de locomoção e de controle de objetos, além dos parciais LOC, CO e QMG. No entanto, quando as análises foram estratificadas pelo sexo, as meninas do grupo pré-termo mostraram desempenho inferior às meninas do grupo termo na habilidade correr (p= 0,02), no escore parcial de CO (p=0,02) e no quociente motor geral (p=0,05). Apesar das restrições individuais causadas pela prematuridade nossos resultados fornecem evidências de que crianças prematuras podem ser capazes de alcançar os mesmos níveis de desempenho motor no teste TGMD-2, em comparação as crianças com desenvolvimento motor típico. No entanto, quando as análises levam em consideração o gênero pode-se concluir que ser prematura e do gênero feminino afetou negativamente a proficiência em habilidades motoras grossas.