A teoria pós-colonial auxilia a compreensão das múltiplas experiências vivenciadas por mulheres no Brasil, isso porque descentraliza a discussão elitista da mulher restrita ao ambiente familiar, apontando que as mais pobres já trabalhavam para sustentar as famílias, já outras guerreavam entre os séculos XVII, XVIII e XIX. Entretanto, ainda se conserva a concepção européia da mulher enclausurada por seus pais e posteriormente por seus maridos, desconsiderando outras mulheres que desde o século XIX já contribuíam com a renda familiar, trabalhando fora de casa ou guerreando contra práticas colonialistas. É certo que as mulheres mais ricas ao decorrer do século XIX eram submissas aos homens, saindo de casa apenas para freqüentar missas, enterros ou para casar-se, estando a cargo do pai a escolha do marido, uma vez que o casamento era visto como um negócio entre as famílias, o que não significa desconsiderar a experiência de outras mulheres. Nesse sentido, o objetivo do artigo é contribuir para a desconstrução de um ideal universalista e elitista, que concebe a mulher do século XIX restrita ao ambiente familiar, buscando percorrer diferentes organizações de vida, família e sociedade. Para isso, a metodologia utilizada recorre à história cultural, permitindo compreender a realidade como construção que delineia formas de pensar e ler o mundo.