A criança em sofrimento psíquico necessita, ao mesmo tempo, de receber cuidados especiais e de ser incluída na sociedade como qualquer outro cidadão. Para isso é preciso uma interação entre os sujeitos responsáveis por ela: os pais, a escola e o Estado. A partir dos trabalhos desenvolvidos no PET-Saúde Redes de Atenção Psicossocial, programa desenvolvido pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte em parceria com o Ministério da Saúde, foi possível perceber que essas crianças e suas famílias enfrentam problemas cotidianos de diversas naturezas, devido ao transtorno mental, que devem ser reconhecidos para se planejar uma intervenção efetiva. Foram realizadas rodas de conversa - por um grupo de três alunos e uma preceptora do PET-Saúde Redes de Atenção Psicossocial e pelos pais/responsáveis dos usuários do CAPSi - entre os meses de agosto a dezembro de 2013, utilizando-se vídeos reflexivos para estimular a visão crítica dos pais acerca do atendimento oferecido a seus filhos e como eles se sentem e agem perante os desafios encontrados. Foi possível perceber que os pais dos usuários, em sua maioria, mostravam-se cansados por terem uma responsabilidade dobrada e constante com seus filhos. Alguns relataram que se sentiam mais aliviados quando traziam os filhos ao CAPSi, uma vez que, por um momento sabiam que eles estariam em boas mãos, recebendo os cuidados de que necessitavam. As principais dificuldades relatadas eram o preconceito da sociedade, sentido principalmente na escola, pelas outras crianças, por seus pais, e até mesmo por parte dos funcionários e professores, que se mostravam consideravelmente despreparados para lidar com crianças em sofrimento psíquico. O esperado por eles é que seus filhos sejam incluídos socialmente na escola e tenham tratamento semelhante aos demais. No entanto, com o que mais se deparam é a discriminação, isolamento e até maus tratos. Outro problema é a falta de serviços e profissionais com formação e identificação na área de saúde mental infantil em outras cidades, o que faz muitos pais e suas crianças se deslocarem enormes distâncias para serem atendidos no CAPSi, tendo como consequência a sobrecarga da rede de saúde mental de Mossoró. Diante de tamanhos problemas encontrados, é possível perceber que se precisa de maior capacitação dos profissionais, apoio e orientação para os pais e principalmente da promoção de parceria permanente entre o CAPSi e as escolas, a fim de promover um melhor cuidado para as crianças com problemas de saúde mental.