DIAS, Cleonides Da Silva Sousa et al.. Questões voltadas ao aborto: uma visão masculina. Anais CONACIS... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/5624>. Acesso em: 24/11/2024 22:58
A investigação sobre o aborto através de uma perspectiva masculina é carente de estudos o que revela uma divisão em termos de gênero em relação aos processos reprodutivos, indicando que estes são assuntos de exclusividade feminina. Entretanto, estudos apontam para a necessidade de se incluir o parceiro neste processo decisório. Diante disso, o objetivo do presente trabalho reside na avaliação dos discursos de homens que compartilharam a experiência de aborto - espontâneo ou provocado - com alguma parceira. Tratou-se de uma pesquisa de natureza exploratória e qualitativa. Participaram oito homens que compartilharam a experiência de aborto espontâneo com suas parceiras, residentes em três cidades do interior da Paraíba, com idades variando de 18 a 65 anos. Para a coleta de dados foram utilizada, inicialmente, a técnica de evocação, enunciação e averiguação, onde se pedia que os participantes falassem as três primeiras palavras que vinham a sua cabeça quando pensavam sobre aborto e uma entrevista em profundidade. sendo estas analisadas por meio de análise de frequência e análise categorial temática. Dentre as palavras evocadas, as que mais apareceram foram aquelas relacionadas à sentimentos como “tristeza”, “decepção” e “dor” e as relacionadas à perda do bebê como “destino” e “erro”. Dentre os sentimentos evocados pelos participantes, alguns se mostraram positivos e negativos tanto em relação à gravidez quanto em relação ao aborto. Em relação à gravidez, alguns participantes relataram alegria e amor pela gravidez, mas ao mesmo tempo alívio pela perda, pois referiram não possuir condições financeiras para provê o sustento do filho. Dentre os sentimentos evocados em relação ao aborto, estão: tristeza, abalo. desgosto, chateação, dor, perda, entre outros. Também foi constatado o descaso dos profissionais de saúde para com os sentimentos do pai. Alguns homens também relacionaram o aborto ao destino, ligando esse fato também a questões religiosas. Esse fato pode sugerir que para que houvesse uma aceitação mais fácil da perda, o aborto foi justificado a partir de questões religiosas. Relacionado a isto, muitos trouxeram à tona o aborto provocado como sendo um erro voltado para questões religiosas e questões jurídicas. Com base no objetivo da pesquisa, de avaliação dos discursos dos homens que compartilharam com suas parceiras uma experiência de aborto, pode-se perceber que este foi alcançado com sucesso, constatando-se que os resultados também foram compartilhados por outros pesquisadores. Destaca-se, na maioria dos casos que os sentimentos voltados para a gravidez eram ambíguos, ora expressando felicidade, ora preocupação; mas os voltados para o aborto foram, na maior parte dos casos, de cunho negativo. Também pôde-se perceber que os profissionais de saúde não estão preparados para acolher o homem que viveu uma experiência de aborto. Além disso, tomando-se as relações sociais de gênero, a percepção dos próprios homens de reconhecer que merecem atenção, mas ainda sim, colocando a mulher como sujeito central na experiência do aborto. Diante isto, afirma-se a necessidade de mais pesquisas sobre a temática no sentido de contribuir com uma maior capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde para o cuidado dos homens.