INTRODUÇÃO
NO PERÍODO DE PANDEMIA DA COVID-19 NO BRASIL, A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE, ESPECIALMENTE AS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE DA FAMÍLIA, FOI POUCO VALORIZADA EM SUA POTÊNCIA DE ARTICULAÇÃO COM MORADORES, SERVIÇOS DE SAÚDE E OUTROS EQUIPAMENTOS SOCIAIS, ASSIM COMO NAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (FELICIANO ET AL., 2020; FORTUNA ET AL., 2020).
HOUVERAM MUNICÍPIOS QUE DESLOCARAM AS EQUIPES PARA SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA E TAMBÉM PARA AMBULATÓRIOS ESPECIALIZADOS E ATÉ MESMO PARA HOSPITAIS.
OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE FORAM DESLOCADOS DO TERRITÓRIO ONDE CIRCULAVAM E REALIZAVAM AS VISITAS DOMICILIARES. OS DENTISTAS DOS SERVIÇOS PARARAM OS ATENDIMENTOS E AS CONSULTAS DE ENFERMAGEM E MÉDICAS FICARAM RESTRITAS EM ALGUNS AGRAVOS E SEGUIMENTOS.
AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE REALIZADAS POR PROFISSIONAIS ESPECÍFICOS OU NÃO, SE VOLTARAM PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO CONTINUADA SOBRE A DOENÇA, AS FORMAS DE CONTÁGIO, A PARAMENTAÇÃO E DESPARAMENTAÇÃO ENTRE OUTRAS.
NA MEDIDA EM QUE A EPIDEMIA TORNAVA-SE PARTE DO COTIDIANO, NÃO PELO SEU CONTROLE, MAS PELA REITERADA DISPUTA DE INTERESSES ECONÔMICOS QUE VISAVAM A VOLTA PARA UM “SUPOSTO NORMAL”, AS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA FORAM RETOMANDO ALGUMAS DE SUAS ATIVIDADES.
POR INICIATIVAS DE PESQUISA E DE INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO, ALGUMAS LOCALIDADES DO INTERIOR PAULISTA RETOMARAM AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE.
O PRESENTE ESTUDO É PARTE DE UMA PESQUISA MAIOR QUE ENVOLVE 24 MUNICÍPIOS DO INTERIOR DE SÃO PAULO.
OBJETIVO
ANALISAR O PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE VIVENCIADO COM DUAS EQUIPES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NO PERÍODO DE PANDEMIA.
MÉTODO
PESQUISA QUALITATIVA DO TIPO INTERVENÇÃO EM QUE OS PARTICIPANTES FORAM TRABALHADORES DE DUAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA. HOUVE 10 SESSÕES DE GRUPO DE DURAÇÃO DE CERCA DE 2 HORAS CADA. AS SESSÕES FORAM ANIMADAS PELAS RESPONSÁVEIS PELA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE, PELA ATENÇÃO BÁSICA DO MUNICÍPIO E CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DE PESQUISADORES VINCULADOS A OUTROS MUNICÍPIOS, NA GESTÃO REGIONAL DE SAÚDE E UNIVERSITÁRIOS (DOCENTES E PÓS-GRADUANDOS). FOI PROPOSTO NO PRIMEIRO ENCONTRO QUE OS PARTICIPANTES ESCOLHESSEM UMA PROBLEMÁTICA CAPAZ DE SER ENFRENTADA POR AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE A SER DESENVOLVIDA EM CINCO ENCONTROS, SENDO O ÚLTIMO DESTINADO PARA SESSÃO DE RESTITUIÇÃO.
A EQUIPE UM ESCOLHEU A DIFICULDADE QUE ESTAVAM VIVENCIANDO PARA ACOMPANHAR OS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO E DIABETES NO TERRITÓRIO. JÁ A EQUIPE DOIS ESCOLHEU TRABALHAR COM O TEMA DA DIFICULDADE DE CONSTRUIR REDES ASSISTENCIAIS ESPECIALMENTE EM CASOS DE VULNERABILIDADE SOCIAL. AMBAS AS EQUIPES VIVENCIARAM MOMENTOS DE REFLEXÃO E COMBINAVAM TAREFAS ENTRE OS ENCONTROS QUE FORAM AGENDADOS CONFORME DISPONIBILIDADE.
O PROJETO PASSOU POR COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISAS COM SERES HUMANOS, SENDO APROVADO SOB PROTOCOLO CAEE N° 33638720.6.0000.5393.
TODAS AS MEDIDAS PREVENTIVAS EM RELAÇÃO À COVID 19 FORAM ADOTADAS, COMO USO DE MÁSCARAS, DE HIGIENIZAÇÃO FREQUENTE DE MÃOS E DISTÂNCIA ENTRE AS PESSOAS NA SALA DURANTE AS SESSÕES GRUPAIS.
RESULTADOS
APONTAMOS COMO RESULTADOS A IMPORTÂNCIA DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE COM EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA, ESPECIALMENTE NO MOMENTO PANDÊMICO, EM QUE FOI POSSÍVEL, NÃO SÓ A COMPREENSÃO DA PROBLEMÁTICA DO ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS, MAS TAMBÉM A CONSIDERAÇÃO DOS MOMENTOS VIVENCIADOS PELA EQUIPE.
ESSES PODEM SER ILUSTRADOS COM ALGUNS FRAGMENTOS DE FALAS: “UMA VEZ POR MÊS DEVERIA TER RODAS COMO ESSA”; “A GENTE FOI DAR UMA VOLTA NO BAIRRO E PERCEBEMOS QUE MUITA COISA MUDOU...VÁRIAS PESSOAS VIERAM PERGUNTAR DAS VACINAS, VIERAM FALAR COM A GENTE”; “BANHO, ROUPA, CORTES DE CABELO, SERÁ QUE ISSO SERIA VIÁVEL PARA ELES? ELES VÃO ACEITAR? É INTERESSANTE?”; “MESMO EM MEIO A TANTAS DIFICULDADES ENCONTRADAS, A GENTE PERCEBE QUE ELA MESMA ESTAR EM UMA SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE... MAS O QUE PASSOU PRA GENTE FOI ISSO, FALHAMOS NESSA COMUNICAÇÃO”; “FOI CHOCANTE ÀS SITUAÇÕES...FOI TRISTE, CHOCANTE”; “AS VISITAS FAZEM MUITA FALTA, NÃO SÓ PRA GENTE, MAS PRA ELES TAMBÉM...”; “COM A VISITA ELES SE SENTEM MAIS SEGUROS, VISTOS, AMPARADOS, QUANDO NÃO TEM A VISITA SE SENTEM DESAMPARADOS…”; “COM A VISITA ACABAMOS NOS DEPARANDO COM A REALIDADE, A VISITA É UMA PARTE ESSENCIAL”; “ACHO QUE OUTRAS FAMÍLIAS DEVEM ESTAR NESSAS SITUAÇÕES, DESCREVEMOS E VISITAMOS APENAS CINCO”; “NÃO SEI SE A GENTE TÁ COM UMA ÂNSIA MUITO GRANDE DE QUERER RESOLVER”; “FICO SEM SABER, SENTIMENTO QUE NÃO SEI EXPLICAR...”; “A GENTE QUER MUITO QUE AS COISAS ANDEM…”; “SERÁ SE TIVESSE VISITADO ANO PASSADO, TINHA CHEGADO A ESSE PONTO?”; “REALIZAÇÃO DESSES ENCONTROS COM MAIOR FREQUÊNCIA”.
O PROCESSO MOSTROU-SE POTENTE TAMBÉM PARA APROXIMAÇÃO DOS MEMBROS DAS EQUIPES PARA COM AS RESPONSÁVEIS PELA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE E COORDENAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA.
ILUSTRAMOS COM AS SEGUINTES FALAS: “ENVOLVIMENTO IMPORTANTE DA EQUIPE, INVESTIMENTO...”; “ESSA APROXIMAÇÃO QUE A GENTE TEVE, QUE TEMOS DO OUTRO...”; “APRENDIZAGEM E UNIÃO DA EQUIPE”; “REUNIÕES DE GRANDE APRENDIZAGEM”; “APRENDEMOS VER UM PROBLEMA, DISCUTIR AÇÕES PARA SOLUÇÕES, ASSIM TENDO MAIS UNIÃO COM A EQUIPE”; “PERSISTÊNCIA, UNIÃO, OLHAR PARA AS COISAS SIMPLES DA VIDA”; “PERCEPÇÃO DA SENSIBILIDADE FRENTE AOS CONTEXTOS”; “JUNTOS PODEMOS MUITO MAIS”; “EXERCER EMPATIA”; “UNIÃO FAZ A FORÇA”; “APRENDEMOS QUE PODEMOS SIM AJUDAR MAIS O PRÓXIMO...E TODA EQUIPE NO CONTEXTO”; “TOMAR DECISÕES EM EQUIPE”; “OLHAR MAIS O PRÓXIMO, SER MAIS PACIENTE E TOLERANTE”.
ALGUMAS DIFICULDADES TAMBÉM FORAM RESSALTADAS PELOS PARTICIPANTES, COMO POR EXEMPLO, A REALIZAÇÃO DAS SESSÕES GRUPAIS COM A UNIDADE ABERTA E PORTANTO, INTERRUPÇÕES DE USUÁRIOS NECESSITANDO DE ATENDIMENTOS OU DEMANDANDO INFORMAÇÕES. FOI ASSINALADO A AUSÊNCIA DAS REUNIÕES DE EQUIPE E A DIFICULDADE DE ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS SEM AS VISITAS DOMICILIARES DOS AGENTES COMUNITÁRIOS.
DURANTE O PROCESSO, ALGUNS TRABALHADORES VIVENCIARAM PERDAS DE FAMILIARES PELA COVID-19 E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE RELATARAM A IMPORTÂNCIA DOS ENCONTROS PARA O FORTALECIMENTO DO SENTIMENTO DE EQUIPE.
DESTA FORMA, AS EQUIPES DE SAÚDE NÃO SÃO CONSTITUÍDAS APENAS PELA JUNÇÃO DE PROFISSIONAIS (FORTUNA ET AL., 2005). ELAS NECESSITAM DE ESPAÇOS EM QUE POSSAM COLOCAR EM ANÁLISE O TRABALHO QUE DESENVOLVEM, OS RESULTADOS, OS MODOS DE FUNCIONAMENTO E RECUPERAR OU REAFIRMAR A FINALIDADE, QUE MUITAS VEZES SE PERDE NAS ROTINAS.
NO PERÍODO PANDÊMICO, REUNIÕES DE EQUIPE FORAM SUSPENSAS NOS LOCAIS ONDE EXISTIAM, EMBORA HAJAM DIVERSAS LOCALIDADES AINDA EM QUE AS MESMAS NÃO EXISTEM, O QUE SE CONFIGURA UMA DAS DIFICULDADES DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA. IGUALMENTE, AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE FORAM INTERROMPIDAS ABRINDO ESPAÇOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO DE MODO MENOS INTEGRADO.
A PESQUISA REITERA ACHADOS DE OUTROS ESTUDOS, INDICANDO A IMPORTÂNCIA DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE (OGATA ET AL., 2021; GONÇALVES ET AL., 2019). APONTA UM ASPECTO MENOS FREQUENTE NAS PRODUÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE QUE É O EFEITO DE ELABORAR COLETIVAMENTE SENTIMENTOS E PARTILHAR AFETOS ENTRE OS MEMBROS DAS EQUIPES. ESSES SENTIMENTOS VÃO DESDE A IMPOTÊNCIA DIANTE DA DOENÇA, DA MISÉRIA E VULNERABILIDADE ACENTUADAS PELO CONTEXTO SÓCIO SANITÁRIO ECONÔMICO DO PAÍS, ATÉ A PARTILHA DO APOIO E SOLIDARIEDADE AOS COLEGAS QUE PERDERAM ENTES QUERIDOS NESSE PROCESSO.
CONCLUSÃO
AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE MOSTRAM-SE POTENTES PARA O ACOMPANHAMENTO DAS EQUIPES DE SAÚDE, ESPECIALMENTE EM MOMENTOS CRÍTICOS COMO A PANDEMIA E PODE AMPLIFICAR-SE QUANDO ASSOCIADA A PROCESSOS INVESTIGATIVOS QUE TAMBÉM A COLOQUEM EM ANÁLISE. A PANDEMIA EXPÔS A PREMENTE NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS NA ATENÇÃO BÁSICA E UM DELES É CERTAMENTE NAS AÇÕES QUE ACOLHAM ESSAS EQUIPES, COMO POR EXEMPLO, NAS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE.
PALAVRAS-CHAVE: ATENÇÃO BÁSICA, EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE, EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA, PANDEMIA.
AGRADECIMENTOS
ÀS DUAS EQUIPES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA, À RESPONSÁVEL PELA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE E À COORDENADORA DA ATENÇÃO BÁSICA PELA PARTICIPAÇÃO E À TODOS OS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS, PELO APOIO, REFLEXÃO E CONSTRUÇÃO COLETIVA. AGRADECEMOS AINDA AO FINANCIAMENTO DA PESQUISA, À FAPESP, CNPQ, MINISTÉRIO DA SAÚDE, DECIT E SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO. (PROJETO MODALIDADE PPSUS)
REFERÊNCIAS
FELICIANO, A. B. ET AL. A PANDEMIA DE COVID-19 E A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE. CADERNOS DA PEDAGOGIA, V. 14, N. 29, P. 120-135, 2020.
FORTUNA, C. M. ET AL. RECRIANDO O APOIO INSTITUCIONAL E A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NA ATENÇÃO BÁSICA EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19. IN: MACHADO, M. C. F. P. ET AL. (ORG). SAÚDE PÚBLICA NO SÉCULO XXI: PANDEMIA DE COVID-19. 1A ED. TRIUNFO: OMNIS SCIENTIA, 2020. P. 462-474.
FORTUNA, C. M. ET AL. O TRABALHO DE EQUIPE NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: REFLEXÕES A PARTIR DE CONCEITOS DO PROCESSO GRUPAL E DE GRUPOS OPERATIVOS. REV LATINO-AM ENFERMAGEM, V. 13, N. 2, P. 262-268, 2005.
GONÇALVES C. B. ET AL. THE RESUMPTION OF THE IMPLEMENTATION PROCESS OF THE NATIONAL PERMANENT HEALTH EDUCATION POLICY IN BRAZIL. SAÚDE DEBATE, V. 43, N. 1, P. 12-23, 2019.
OGATA, M. N. ET AL. INTERFACES ENTRE A EDUCAÇÃO PERMANENTE E A EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE. REV ESC ENFERM USP, V. 55, N. E03733, P. 1-9, 2021.