QUASE QUARENTA ANOS APÓS SUA PUBLICAÇÃO, O ROMANCE BALADA DA PRAIA DOS CÃES, DE JOSÉ CARDOSO PIRES, HÁ MUITO ESTABELECEU-SE COMO UMA OBRA DE BALANÇO DO SALAZARISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA OS PORTUGUESES. UMA “VALSA DE CONSPIRADORES”, COMO DEFINIDO PELAS PRÓPRIAS PERSONAGENS, A NARRATIVA SE DESENROLA COMO UMA INVESTIGAÇÃO POLICIAL EM QUE AS PISTAS SÃO, EM SUA MAIORIA, SÍMBOLOS E ENIGMAS QUE, SE POR UM LADO, NÃO FORNECEM RESPOSTAS IMEDIATAS, POR OUTRO AUMENTAM O LEQUE DE POSSIBILIDADES DE INTERPRETAÇÃO DO LEITOR QUE SE PROPÕE A ASSUMIR O PAPEL DE DETETIVE E SOLUCIONAR O CASO DO FASCISMO. NESTE SENTIDO, A PRESENÇA DE MONSTROS, SEJAM OS DA CULTURA DE MASSA, SEJAM OS DA IMAGINAÇÃO DAS PERSONAGENS, PASSANDO POR CORPOS INADEQUADOS E OBJETIFICADOS, ESTABELECE UM FIO DE SIGNIFICADOS RELATIVOS À DESUMANIZAÇÃO PRATICADA PELO FASCISMO, COM O OBJETIVO DE JUSTIFICAR A SUPRESSÃO DE DIREITOS E VIOLÊNCIA DO ESTADO. COMO DEFINEM JEFFREY COHEN E MARGRIT SHILDRICK, O CORPO MONSTRUOSO É AQUELE QUE SE DIFERENCIA EM SUA PRÓPRIA MATERIALIDADE, APRESENTANDO-SE FORA DOS PADRÕES DE ADEQUAÇÃO E RECONHECIMENTO POR PARTE DOS DEMAIS. RELACIONANDO ESTAS DEFINIÇÕES COM MARK NEOCLEOUS E SUA CARATERIZAÇÃO DO FASCISMO COMO UM DISCURSO DE CRIAÇÃO DE MONSTROS, APRESENTAREMOS COMO ESTES CORPOS DISSONANTES ESTÃO PRESENTES EM BALADA DA PRAIA DOS CÃES E SÃO PARTE DO PROCESSO DE DESUMANIZAÇÃO DO SALAZARISMO DENUNCIADO POR CARDOSO PIRES.