Desde a promulgação da Lei 10.639/2003 as buscas por perspectivas, histórias e epistemologias outras se fizeram mais presentes na educação brasileira no que diz respeito à ancestralidade africana e afrodiaspórica. No entanto, essas buscas e ressignificações ainda parecem tímidas em alguns contextos territoriais. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo refletir sobre resistência, memória e esquecimento na cidade de Lagarto-SE e seus possíveis impactos para a educação das relações étnico-raciais. Focalizamos nos discursos que vigoram na cidade no que diz respeito à construção imagética do intelectual Silvio Romero (1851-1914) e do grupo Parafusos. Do ponto de vista teórico-metodológico, essas reflexões partem das experiências vividas pelo autor enquanto morador do município, assim como da literatura de pesquisa sobre Silvio Romero e sobre o grupo Parafusos, tendo como marco de análise algumas produções do campo das relações étnico-raciais brasileiras e dos estudos decoloniais. Lagarto-SE tem como figura histórica mais proeminente o intelectual Silvio Romero, o qual é reverenciado no contexto urbano, contando com construções e espaços públicos que levam seu nome. Contudo, pouco se fala que Silvio Romero foi um grande defensor da cientificidade das teorias racistas do final do século XIX e início do século XX. Por outro lado, a cidade conta com um grupo chamado Parafusos, que remete a um movimento de fuga que ocorria nos tempos da escravização negra no Brasil do seu período colonial ao império. Esse grupo é uma das grandes manifestações culturais da cidade, no entanto, é visto como um grupo folclórico destituído do seu papel de resistência que devemos incitar até os dias atuais. Sendo assim, pretende-se discutir o currículo enquanto memória coletiva a favor da colonialidade, assim como trazer contribuições para a implementação da lei 10.639/2003 ao desvelar nos discursos e figuras hegemônicas o que pode ser dito em prol de uma educação antirracista.