O caráter heterogêneo da língua constitui-se por sua face social, haja vista forças externas que potencializam o movimento do sistema interno da língua, possibilitando modificações. A língua pode sofrer mudanças e variações em seus diversos níveis, aqui, iremos nos ater ao sintático, com isso algumas estruturas linguísticas podem exercer funções típicas de outras a depender do contexto de uso. Nesse sentido, o presente artigo objetiva analisar a gramaticalização do item sem, com fins pedagógicos, considerando os aspectos sintáticos e semânticos do seu funcionamento, ao introduzir orações subordinadas adverbiais reduzidas de infinitivo. Para isso, utilizamos como corpus memes do Bode Gaiato, veiculados na rede social Instagram, analisado à luz da perspectiva funcionalista em contraponto à tradição gramatical. Afinal, esse gênero efervescente é típico da cultural digital e fomenta o trabalho com gêneros textuais/discursivos, bem como coloca em destaque o trato de textos da cultural popular nordestina. Logo, esta análise caracteriza-se como de natureza qualitativa de caráter documental. Identificamos a pertinência deste estudo em se possibilitar a verificação do comportamento do item sem que é considerado pela tradição uma preposição e, portanto, não poderia ligar orações, nessa direção observamos que o item em questão também se comporta como conjunção, conforme já investigou Ramos (2015), ao analisar a multifuncionalidade sintática e semântico-discursiva do sem em estruturas hipotáticas adverbiais. Além disso, atribui sentidos diversos à matriz oracional, além do que é posto pela gramática tradicional, como: concessão, negação de consequência e condição, assim, pode-se pensar em uma (re)categorização que contribui para o ensino de língua portuguesa mais próximo da realidade linguística, favorecendo uma educação linguística para o contexto de formação na escola. Para tanto, tomamos como base teórica as postulações de Martins (2013), Ramos (2015), Perini (2016), Azeredo (2021) entre outros.