Este artigo tem como objetivo relatar a experiência do tambor de crioula, desenvolvida pelo grupo “Filhos de Mãe Maria Devotos de São Benedito”, no Centro de Referência especializado para a população em situação de rua – CENTRO POP, um equipamento público localizado na cidade de Fortaleza – CE. A metodologia utilizada foi a pesquisa participante, onde, a partir de observações, registro em diário de campo e entrevistas realizadas com os participantes, constatou-se a necessidade de refletir sobre o caráter pedagógico e transformador dessa brincadeira tradicional popular, de origem afro-maranhense, que é o tambor de crioula, na vida das pessoas em situação de rua. Para isso, utilizou-se como principal referencial teórico os estudos de Rufino (1987) em que compreende a educação como um fenômeno complexo político, ético, estético e poético de ser e praticar o mundo, reivindicando uma pedagogia de encantamento e enfretamento das violências operadas pelo racismo e colonialismo, Paulo Freire na perspectiva da importância dos saberes populares e culturais da educação popular e os dados da pesquisa do Instituto Compartilha sobre os comportamentos, costumes e acesso aos serviços de público da população em situação de rua da cidade de Fortaleza (2021). Observou-se, nas vivências, que o tambor para os participantes emergia como um elemento transformador em seus cotidianos, conferindo-lhes práticas sociais de coletividade, responsabilidade, criatividade, sensibilidade, empatia e autoestima, ajudando-os a manter uma rotina mais saudável, a se conectar com sua espiritualidade, a ter propósitos de vida e almejar a realização de projetos futuros com o grupo do tambor de crioula. Além disso, notou-se o poder pedagógico da arte e da cultura no processo educativo, onde foi possível observar a curiosidade, o interesse e as aprendizagens construídas nas conversas entorno da fogueira enquanto afinavam-se os tambores, onde dialogava-se sobre raça, gênero, religião e musicalidade, construindo saberes entre os pares.