Historicamente, a infância tem sido alvo de projetos educativos e sociais que não estão isentos de neutralidade política, constituindo-se neles visões de mundo, sociedade, ser humano, sobretudo de infância. A preocupação com a infância esteve presente em discursos e ações de intelectuais, entre eles, o médico Arthur Ramos. O psiquiatra alagoano dedicou-se a investigar, no Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (SOHM), o comportamento de crianças de escola pública tidas como “anormais”, analisando mais de dois mil escolares, aplicando, sobretudo, o método clínico. Segundo Foucault (2014), a medicina foi uma estratégia biopolítica que interveio na vida das populações, docilizando corpos e mentes para garantir força de trabalho útil, sadia e submissa. Partimos do pressuposto de que, historicamente, a infância tem sido o anseio dos sonhos políticos, conforme Kohan (2009). Partindo disso, tem-se como objetivo analisar a noção de infância no discurso médico de Arthur Ramos, divulgado nas produções A criança problema e Saúde do espírito, ambas de 1939. Como a infância foi tratada e sua relação com estratégias biopolíticas? Esta é uma pesquisa de caráter documental e bibliográfico, com base nos estudos pós-estruturalistas, sobretudo do filósofo Michel Foucault. Percebem-se intervenções médicas no corpo e na mente das crianças, que seriam moldadas a um contexto utilitarista e liberal, logo, docilizadas, circunscritas em relações de poder, constituindo, assim, uma estratégia biopolítica que nos auxiliam a refletir sobre a história da educação infantil. Conhecer a história e refletir sobre ela é uma forma de compreender o percurso da educação e sua complexidade, a fim de trilhar outros caminhos.