Este trabalho tem por objetivo estabelecer, inicialmente, um confronto entre dois textos de gêneros diversos, mas que têm em comum o pertencimento à esfera legislativa. Um deles é um requerimento do personagem Policarpo Quaresma, enviado à Câmara Federal, no romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, publicado em 1915. Tal requerimento solicitava a decretação do tupi-guarani como língua oficial do país. Trata-se de contexto ficcional que traz para o debate a formação plurilíngue da sociedade brasileira, ainda amplamente escamoteada. O outro texto é o projeto de lei nº 1676/99, de Aldo Rebelo, ex-deputado federal pelo PCdoB/SP. Tal projeto pretendia que palavras estrangeiras fossem substituídas por termos equivalentes em português ou, no caso de tais termos não existirem, que a Academia Brasileira de Letras (ABL) estudasse seu "aportuguesamento". Trata-se, aqui, de contexto institucional jurídico, que se mostra convicto do poder de interferir em um fato cultural por excelência, como a constituição do léxico. Com base nesse confronto, é possível apreender concepções de língua, em circulação na sociedade, que não se sustentam em uma perspectiva teórica que destaca a inscrição sócio-histórica da atividade linguística. Tais concepções ignoram, por exemplo, o recorrente fenômeno dos empréstimos, que se relacionam com conjunturas diversas, atravessadas pela economia, pela arte, pela ciência, pela religição, dentre outros.