OLIVEIRA, Maria Francinete De. Agente comunitário de saúde e a violência de gênero. Anais CONACIS... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/5413>. Acesso em: 25/11/2024 00:44
Como estudiosas da temática gênero observamos, na prática, que não alcançaremos a equidade se os homens continuarem alijados das políticas públicas para as mulheres, principalmente das relacionadas com a violência, a reprodução humana e a prevenção e promoção à saúde. Precisamos conhecer as experiências concretas do cotidiano masculino e não apenas os comportamentos que a sociedade espera dos homens. Assim, a presente pesquisa teve por objetivos apreender as representações de agentes de saúde sobre os papéis sociais de homens e mulheres (gênero) e suas dificuldades em lidar com a violência no âmbito doméstico; identificar a participação, enquanto Agentes, nos planos de ajuda terapêutica aos grupos vulneráveis. Para a realização da pesquisa utilizamos o método qualitativo, cujos dados foram coletados através de entrevistas individual (20 agentes) e grupal (14 agentes) e da observação sistematizada de situações consideradas pertinentes para a compreensão do processo analisado. Os dados coletados foram analisados em três categorias: a participação dos homens no cuidado com a saúde da família e com a sua própria saúde, considerada pelos grupos como difícil; Os papéis sociais de homens e mulheres e a violência no âmbito doméstico (Todas as pessoas que participaram do Grupo de discussão têm conhecimento sobre o que é gênero e os papeis de gênero); Ajuda terapêutica aos grupos humanos vulneráveis e envolvidos com uso e abuso de álcool e drogas, dentre outros, quando foi relatada a existência de um capital social significativo trabalhando com a problemática. Os dados coletados através de entrevista individual também foram categorizados de acordo com os objetivos propostos, podendo ser resumido da seguinte forma: para as agentes suas funções estão limitadas aos problemas de saúde –“são tarefas determinadas”. Através da evocação livre de palavras percebe-se a predominância da visão patriarcal dos papéis de homens e mulheres: 30% reconhecem que têm mulheres que gostam de apanhar ou que merecem apanhar; 50% referiram que “não deve se meter” e 40% que não podem perder a confiança (40%). Reconhecem que terminam aceitando a ideia de que os homens não cuidam da saúde, assim como, que os serviços de saúde não têm atendimento especializado para eles, exceto o programa HIPERDIA. Neste trabalho procuramos apresentar os elementos que estão presentes na prática de agentes de saúde relacionadas ao homem e a violência de gênero. Observa-se que suas funções, tornam-se comprometidas pela cultura de gênero que impõe a onipotência aos homens fazendo com que estes resistam em cuidar de sua saúde e da de sua família. Ao mesmo tempo em que conhecendo os papéis sociais de homens e mulheres, as situações de risco nas localidades em que atuam e as influencias sociais geradas pelo consumo de álcool e drogas, existe o sentimento de “medo”, por parte da (o)s Agentes, de sofrerem agressões durante o exercício de suas práticas laborais. A formação de “redes de proteção” que envolvem as forças sociais da comunidade foi uma alternativa encontrada por parte desses agentes para desenvolverem seus trabalhos na perspectiva de redução da violência de gênero.