A POESIA SATÍRICA PRODUZIDA EM PORTUGAL E NO ESTADO DO BRASIL NO SÉCULO XVII TINHA COMO MATÉRIA GERAL O VÍCIO, EMBORA OS VÍCIOS AJUIZADOS FORTES, PORQUE CAUSAVAM HORROR SEGUNDO A ÉTICA A NICÔMACO, DE ARISTÓTELES, PREPONDERASSEM SOBRE AQUELES LIGADOS COSTUMEIRAMENTE À VERTENTE “RIDÍCULA” DO CÔMICO, JULGADOS VÍCIOS FRACOS. ENTRE OS POEMAS PROPRIAMENTE SATÍRICOS (BOMOLOCHIA), HAVIA MUITOS QUE NOMEAVAM O VITUPERADO, E, AO NOMEÁ-LO, PRODUZIAM APARENTEMENTE CERTA MEMÓRIA SUA PELO AGENCIAMENTO DA POESIA E DA ESCRITURA, AO TEMPO EM QUE, POR REMISSÃO AO CASTIGO DO VÍCIO NESTE E SOBRETUDO NO OUTRO MUNDO, OPERAVAM SIMULTANEAMENTE SUA DANAÇÃO POR REFERÊNCIA EXPLÍCITA AO “APAGAMENTO” DE SEU NOME DA MENTE DE DEUS E DO ROL DOS HOMENS HONRADOS. POEMAS QUE PRODUZEM DISCURSIVAMENTE A DAMNATIO MEMORIAE DOS VITUPERADOS NÃO SÃO INCOMUNS NO IMPÉRIO PORTUGUÊS DO SÉCULO XVII E AS MATRIZES LETRADAS DESSES POEMAS PODEM SER ENCONTRADAS EM POETAS ESPANHÓIS DO SÉCULO DE OURO, COMO FRANCISCO DE QUEVEDO. ANALISAREMOS ALGUNS POEMAS SATÍRICOS EM PORTUGUÊS E UM DOS EPITÁFIOS SATÍRICOS DE FRANCISCO DE QUEVEDO COM O OBJETIVO DE TORNAR EVIDENTE O TRATAMENTO POÉTICO DA DAMNATIO MEMORIAE NESSES TEXTOS E SUAS RELAÇÕES DE PRECEDÊNCIA E DERIVAÇÃO. COM VISTAS A GARANTIR A INTELIGIBILIDADE DO ESTUDO QUE AQUI SE PRETENDE EMPREENDER, PERSCRUTAR-SE-Á TRATADOS RETÓRICO-POÉTICO-TEOLÓGICO-POLÍTICOS, ESCRITOS PELOS ANTIGOS, E ATUALIZADOS NO SUPRACITADO RECORTE TEMPORAL. POR FIM, DA ANÁLISE AQUI ENCETADA, MEDIANTE ARTICULAÇÃO ENTRE POÉTICA E RETÓRICA DEMONSTRATIVA, FOI POSSÍVEL INFERIR QUE MORTE, MEMÓRIA, PODER E POESIA SE ENTRELAÇAM, FIRMANDO E AFIRMANDO UMA ESTRUTURA HIERÁRQUICA, ENTENDIDA COMO MODELAR, NAS SOCIEDADES MONÁRQUICAS PORTUGUESA E ESPANHOLA DOS SEISCENTOS.