O LIVRO BICHOS, DE MIGUEL TORGA, CONSTITUI UMA OBRA DE CONTOS SOBRE O “ANIMAL” SIMBOLIZANDO O CORPO SOCIAL PORTUGUÊS EM 1940 SOB A DITADURA SALAZARISTA. A OBRA APONTA PARA O DISCERNIMENTO DO ASPECTO IRRACIONAL EM OPOSIÇÃO À RAZÃO NA ESTRUTURAÇÃO DO HUMANO, TEMA QUE ATRAVESSA A HISTÓRIA DA FILOSOFIA, MAS QUE TEM IMPORTÂNCIA ESPECÍFICA A PARTIR DA ÉPOCA MODERNA, SUBSIDIANDO LITERATURAS E TEORIAS SOBRE TOTALITARISMOS NO SÉCULO XX. FILOSOFICAMENTE, O ANIMAL PODE SER PREVIAMENTE DEFINIDO COMO A PARTE, NO SER HUMANO, QUE SENTE, MAS QUE AINDA NÃO PENSA, OU PRESCINDE DO PENSAMENTO POR COSTUME. EXEMPLIFICAMOS ESSE ARGUMENTO ATRAVÉS DA FILOSOFIA DE KANT, A QUAL DISCERNE EM LINHAS GERAIS A QUESTÃO DO ANIMAL E A PERDURAÇÃO DO ANIMAL. NESTA OBRA DE TORGA, CADA UM DOS CONTOS SE CONFIGURA COMO UMA ESPÉCIE DE QUADRO TEMATIZANDO UM “BICHO” CONSTRUÍDO LITERARIAMENTE A PARTIR DA EVIDÊNCIA DE QUALIDADES EMOCIONAIS SIMBOLIZADAS POPULARMENTE PELO ANIMAL ESPECIFICADO. PARA EXEMPLIFICAR A RESISTÊNCIA DO HUMANO NO ÂMBITO CRÍTICO, POLÍTICO E SOCIAL, ALINHADO A UM SENTIDO ESTÉTICO MÍSTICO E CRÍSTICO - O ESCRITOR DIRECIONA A SI, COMO AUTOR, A REPRESENTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE FALTANTE AOS PERSONAGENS, ESCREVENDO UM ESPELHO-LIVRO O QUAL, POR SI, É MÁQUINA DE RESISTÊNCIA. MIGUEL TORGA, PSEUDÔNIMO DE ADOLFO CORREIA DA ROCHA, É UM DOS IMPORTANTES ESCRITORES PORTUGUESES DO SÉCULO XX.