RESUMO: FRANCO MORETTI, EM SEU ATLAS DO ROMANCE EUROPEU, DEFENDE QUE O ROMANCE REPRESENTA O ESTADO-NAÇÃO. PARA ELE, ESSA FORMA LITERÁRIA TAMBÉM MOSTRA OS CONFLITOS QUE OCORRERAM PARA QUE O ESTADO-NAÇÃO EXISTISSE. O CRÍTICO APRESENTA TRÊS ÁREAS: O CENTRO URBANO, AS PERIFERIAS RURAIS E A FRONTEIRA INTERNA. DE ACORDO COM ELE, OS PERSONAGENS DE ROMANCES HISTÓRICOS SE DEPARAM DIANTE DO IMPASSE DE NÃO SABEREM SE DEVEM HONRAR SUAS RAÍZES LOCAIS OU SE DEVEM CEDER À HEGEMONIA CENTRAL. APESAR DE O LIVRO MARIA MOISÉS, DE CAMILO CASTELO BRANCO, NÃO SER UM ROMANCE HISTÓRICO, MUITO DA TEORIA DE MORETTI PODE SER APLICADA A ELE. MORETTI DEFENDE QUE DESSAS TRÊS REGIÕES, A ÚNICA A SER MUITO METAFORIZADA É A FRONTEIRA. ESTA METAFORIZAÇÃO REPRESENTARIA O CONFLITO ENTRE OS PODERES LOCAIS E O CENTRAL, SENDO O ÚLTIMO VENCEDOR. O DESAPARECIMENTO DA FRONTEIRA REPRESENTARIA A INCORPORAÇÃO DA PERIFERIA AO ESTADO-NAÇÃO. APLICANDO ESSA TEORIA AO PORTUGAL OITOCENTISTA, VEMOS QUE HAVIA UM CONFLITO ENTRE OS REALISTAS, DEFENSORES DO ANTIGO REGIME E OS LIBERAIS, FAVORÁVEIS ÀS IDEIAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA. OS PROTAGONISTAS DO ROMANCE, ANTÓNIO, UM NOBRE, E JOSEFA, UMA CAMPONESA, SÓ PODEM SE ENCONTRAR NA FRONTEIRA INTERNA. OS VALORES DO ANTIGO REGIME IMPEDEM QUE ELES SE RELACIONEM EM OUTRAS ÁREAS. JOSEFA IRÁ MORRER EM DECORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO E ANTÓNIO, PERSEGUIDO POR SEU PAI, FUGIRÁ PARA O BRASIL. A ZONA DE FRONTEIRA PERDE A SUA METAFORIZAÇÃO; NO ENTANTO, ISSO NÃO RESULTARÁ EM UNIDADE NACIONAL, COMO PREVÊ A TEORIA DE MORETTI. AS INSTITUIÇÕES DO ANTIGO REGIME MOSTRAR-SE-ÃO FORTEMENTE ATUANTES E A TENTATIVA DE UNIÃO NACIONAL SERÁ FRACASSADA. QUANDO O LIBERALISMO FOR EFETIVAMENTE VENCEDOR, MUITOS CONFLITOS SURGIRÃO E MARIA MOISÉS, A FILHA DO CASAL, SERÁ UMA REPRESENTAÇÃO DA TENTATIVA DE UNIÃO DO PAÍS, QUE OCORRE ATRAVÉS DO FAVOR E DO CATOLICISMO.