Neste presente trabalho tratamos a escrevivência como metodologia de escrita, que ultrapassa o campo da abstração e finca suas raízes como movimento insurgente de afirmar existências. Principalmente, ao trazer para o centro das narrativas corpos desumanizados pelo colonialismo fundante da modernidade. Com isso, nós problematizamos o entendimento moderno de humanidade como essencialmente dicotômico, pois a afirmação de si implica na subjugação do outro, estabelecendo, portanto, a lógica do “ser” e do “não-ser”. À vista disso, corporificamos esse outro para compreender a problemática em torno da construção da sua conjectura moldada através dos entraves sociais impostos pelo colonialismo epistemológico, somente assim se depreende como essa noção contribui com a hegemonia da branquitude. Ou seja, se o processo colonial é a base que constroi a ontologia da sociedade ocidental, esse ser projeta e cria suas epistemologias que operam perpetuando pressupostos racistas na construção do saber, uma vez que as dualidades sociais extrapolam o corpo e pairam sobre a produção de conhecimento. Contudo, para pensar uma educação conta o colonialismo epistemológico é necessário trazer o negro para o centro do debate e a literatura, por exemplo, pode fazer parte desse movimento por meio da rememoração e do resgate de uma história apagada que precisa ser contada pela voz dos marginalizados, como realiza Conceição Evaristo. Nessa escrita, não cabe qualquer vivência, uma vez que ela surge como um ato oriundo de mulheres negras que pretendem emitir potência através da fabulação de uma coletividade. A escrevivência é, inegavelmente, um fenômeno diaspórico, pois é uma tentativa de subversão desse dispositivo de poder que foi detentor das narrativas. Se apropriar da língua, segurar o discurso e contar as próprias histórias é revolucionário, uma vez que tal ato sempre foi negado a corpos pretos construídos a partir do signo da branquitude.