A LITERATURA DE SARAMAGO COMPÕE-SE EM VÁRIOS NÍVEIS DE JOGO. NÃO SOMENTE NAS DIGRESSÕES DO NARRADOR, MAS TAMBÉM COM OS SEUS PERSONAGENS ESTABELECENDO-SE COMO CONSCIÊNCIAS QUE INTERAGEM EM BUSCA DE UMA COMPREENSÃO, QUE NÃO RESIDE EM UM OU OUTRO, MAS SIM NUM ENTRE-LUGAR, CONTINUAMENTE DILATADO. ASSIM, O ESCRITOR BUSCA APRESENTAR TÓPICOS DE DESASSOSSEGO, SEJA NA PERSPECTIVA HISTÓRICA, COM O QUESTIONAMENTO CONTÍNUO PARA A REVISITAÇÃO DAS VERSÕES DITAS OFICIAIS, SEJA NO ENFOQUE HUMANO, COM A PRODUÇÃO DE ALEGORIAS QUE SE INTENTAM PROBLEMATIZADORAS DO PAPEL SOCIAL DOS SUJEITOS NUMA COLETIVIDADE. TENDO EM MENTE TAIS DIÁLOGOS POSSÍVEIS, UMA NOVA ABORDAGEM DE LEITURA É PROPOSTA, COMPLEMENTAR À LEITURA DOS ROMANCES: UM BARALHO DE CARTAS, NO QUAL FIGURAM CINQUENTA PERSONAGENS SARAMAGUIANOS, E QUE SE DESDOBRA EM DIFERENTES JOGOS. TAL CAMPO INTERATIVO SE CONSTRÓI EM DINÂMICAS DISTINTAS, ORA COMO ESTRATÉGIA DE COMPARAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS (COMO ASTÚCIA, ALEGORIA OU ENGAJAMENTO), ORA COMO EXERCÍCIO LÚDICO, COM OS UNIVERSOS CRIADOS PELO AUTOR ATUANDO EM CONSONÂNCIA. PARTINDO DOS PRESSUPOSTOS DE TEÓRICOS E CRÍTICOS COMO WALTER BENJAMIN – NA ÓTICA DO BRINQUEDO E DE SUA DIMENSÃO SIMBÓLICA –, JOHAN HUIZINGA E SEU HOMO LUDENS, BEM COMO DAS DISCUSSÕES DE LEYLA PERRONE-MOISÉS SOBRE OS CAMINHOS DA LITERATURA NO SÉCULO XXI, CONSTROEM-SE CONSIDERAÇÕES E ANÁLISES SOBRE O JOGO E O ATO DE JOGAR. EMBORA A OBRA DO NOBEL PORTUGUÊS POSSUA STATUS DE CLÁSSICO E TENHA BOA RECEPÇÃO, NÃO APENAS ACADÊMICA, MAS TAMBÉM DE PARTE DO PÚBLICO EM GERAL, HÁ AINDA CERTAS RESISTÊNCIAS, POR DIVERSOS FATORES – SEJAM TEMÁTICOS, SEJAM SINTÁTICOS –, NA LEITURA DE SEUS ROMANCES. NESSE SENTIDO, A PROPOSTA DE TAL JOGO VEM COMO UM DUPLO CAMINHO: SE POR UM LADO PODE SERVIR DE INCENTIVO A LEITORES NEÓFITOS DESCOBRIREM A OBRA SARAMAGUIANA, POR OUTRO É UMA FORMA DOS JÁ CONHECEDORES REVISITAREM OS ROMANCES COM UMA OUTRA ROUPAGEM.