O SÉCULO XIX MARCA A POPULARIZAÇÃO DA LITERATURA. COM A SOFISTICAÇÃO DA TIPOGRAFIA E O AUMENTO DO PÚBLICO LEITOR, O MERCADO LIVREIRO EXPERIMENTOU UM PROCESSO DE DIVERSIFICAÇÃO AINDA SEM PRECEDENTES. A LITERATURA LICENCIOSA É UM DOS INDÍCIOS DESSE FENÔMENO. CIRCULANDO NAS PRINCIPAIS CAPITAIS EUROPEIAS DESDE, PELO MENOS, O SÉCULO XVII, OS TEXTOS LICENCIOSOS GANHARAM NOVOS CONTORNOS AO LONGO DO SÉCULO DAS LUZES. MAS FOI APENAS NO SÉCULO XIX QUE A PORNOGRAFIA ASCENDEU COMO UM GÊNERO LITERÁRIO COM FIM EM SI MESMO: EXCITAR SEXUALMENTE O LEITOR (HUNT, 1999). NO CIRCUITO LITERÁRIO LUSO-BRASILEIRO, A PARTIR DA SEGUNDA METADE DO OITOCENTOS, A LITERATURA LICENCIOSA ATRAIU MUITOS ESCRITORES QUE PASSARAM A PRODUZIR UMA PORNOGRAFIA VOLTADA ESPECIALMENTE PARA OS LEITORES DO GÊNERO. ACOSTUMADOS AOS ORIGINAIS E ÀS TRADUÇÕES DE CLÁSSICOS LIBERTINOS, COMO O ANÔNIMO THÉRÈSE PHILOSOPHE (1748) (EL FAR, 2004; MENDES, 2016), OS LEITORES LUSO-BRASILEIROS PODIAM, ENTÃO, ENCONTRAR TEXTOS ESCRITOS ORIGINALMENTE EM PORTUGUÊS, CONTEMPORÂNEOS EM RELAÇÃO AOS TEMAS E À LINGUAGEM. A POPULARIDADE DO GÊNERO É REVELADA SOBRETUDO PELOS ANÚNCIOS DAS LIVRARIAS E PELAS CRÍTICAS PREOCUPADAS QUANTO AO EFEITO PERNICIOSO DESSES LIVROS. UMA MARCA DESSA LITERATURA ERA O USO DE TÍTULOS QUE PROMETIAM UM CLARO CONTEÚDO SEXUAL, ALÉM DA CLANDESTINIDADE DAS PRODUÇÕES, QUE SURGIAM APÓCRIFAS, COM LOCAIS DE PUBLICAÇÃO FICTÍCIOS OU ASSINADAS SOB PSEUDÔNIMOS. AINDA, OS JORNAIS CARIOCAS DIVULGAVAM ESSES LIVROS SEM QUE A NACIONALIDADE DOS AUTORES FOSSE RELEVANTE. ESSA LITERATURA ERA TRANSNACIONAL, ESCRITA E PUBLICADA DOS DOIS LADOS DO ATLÂNTICO. NESTA COMUNICAÇÃO, VAMOS CONHECER DOIS DESSES LIVROS: O ANÔNIMO AMAR, GOZAR, MORRER E COCOTES E CONSELHEIROS (1887), DO PSEUDÔNIMO RABELAIS. PERCORRENDO AS FONTES PRIMÁRIAS E COMENTANDO ESTES E OUTROS LIVROS QUE MAIS FIZERAM SUCESSO NA ENTÃO CAPITAL BRASILEIRA, BUSCAMOS EXPLORAR E COMPREENDER A CIRCULAÇÃO DE LIVROS LICENCIOSOS LUSO-BRASILEIROS NO RIO DE JANEIRO NO FINAL DO SÉCULO XIX.