PARA ALBERTO CAEIRO O EXERCÍCIO DA “CIÊNCIA DE VER” É LIBERTADOR E VAI ALÉM DA CONTEMPLAÇÃO DA NATUREZA OU DO MODO DE SENSAÇÃO ELEMENTAR, UTILIZANDO A INTELIGÊNCIA DOS OLHOS PARA ENTENDER QUE AS COISAS DEVEM SER SENTIDAS COMO SÃO (CF. MARTINS E ZENITH, 2004, 2012). A POETISA E MÉDICA ANGOLANA ALDA LARA (1930-1962) INFLUENCIADA, CERTAMENTE, PELOS HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA (1888-1935), PRINCIPALMENTE POR CAEIRO, ANCORA-SE, EM QUASE TODA A SUA POESIA, NA UTILIZAÇÃO DA VISÃO COMO MEIO PARA PERCEBER O SUJEITO EM SI E NO ESPAÇO. LEMBREMO-NOS QUE A PERCEPÇÃO, POR SUA VEZ, SE CARACTERIZA PELA INTERPRETAÇÃO QUE CADA INDIVÍDUO FAZ DE SUA SENSAÇÃO, A PARTIR DO MODO COMO CADA CÉREBRO A RECEPCIONA. POR ISSO, SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO SE TORNAM ALGO COMPLEXO E VARIÁVEL DE ACORDO COM CADA SUJEITO, COMO RESSALTA BORGES FILHO (2007). E A MANEIRA COMO ALDA LARA REAGE AOS ESTÍMULOS É ALGO BEM PARTICULAR, A PARTIR DE UMA TOPONÍMIA DO OLHAR, VISTO QUE OS OLHOS REPRESENTAM O ESPELHO DA ALMA, O REFLEXO DE UM ESTADO, DE UMA CONDIÇÃO, DE LEMBRANÇAS: “NÃO ICES AS VELAS, MARINHEIRO!/ […] / DEIXA-TE IR, COMO O MAR,/ AO SABOR/ DAS MARÉS DE UM DIA…/ COM O CORPO A RESCENDER/ A MARESIA…/ O OLHAR EMBRIAGADO DE LUZ/ E A ALMA,/ EMBRULHADA EM ALGAS,/ A FLUTUAR…” (“ABANDONO”). ASSIM, NESSE NOSSO RECORTE, APONTAREMOS QUE UMA COMPARAÇÃO (LUSO-ANGOLANA), ENTRE OS DOIS POETAS, É POSSÍVEL POR DOIS VIESES: PROXIMIDADES E DESSEMELHANÇAS.