OS ESTUDOS QUE RELACIONAM LITERATURA E TRAUMA TENDEM A DEBATER SOBRE A NARRATIVIZAÇÃO DE CATÁSTROFES HISTÓRICAS E/OU EVENTOS AVASSALADORES COMO GUERRAS, HOLOCAUSTO, ESTUPROS, ABUSOS, EM QUE O SUJEITO, VÍTIMA DA NÃO ASSIMILAÇÃO DO CHOQUE SOFRIDO, É COMUMENTE ACOMETIDO DE SINTOMAS TARDIOS COMO FLASHBACKS, SONHOS OU ALUCINAÇÕES COM IMAGENS SÚBITAS E LITERAIS DO EVENTO EXPERIENCIADO (CARUTH, 1996). SEGUNDO A PSICOTERAPEUTA LAURA BROWN (1995), AO OLHARMOS O TRAUMA COMO UM FATOR PONTUAL, ISTO É, PELAS LENTES DE EVENTOS AVASSALADORES OU CATASTRÓFICOS, FORA DO ALCANCE DA EXPERIÊNCIA HUMANA, ESTAMOS DESPREZANDO O TRAUMA REPETITIVO, INSIDIOSO E CONTÍNUO QUE AS MULHERES TÊM SOFRIDO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA. O TERMO “TRAUMA INSIDIOSO”, CUNHADO POR OUTRA PSICOTERAPEUTA, MARIA ROOT (1992), DEFINE O TRAUMA NÃO COMO UM EVENTO FORA DA EXPERIÊNCIA HUMANA, MAS COMO UMA SÉRIE DE EFEITOS TRAUMÁTICOS, EM SUA MAIORIA SILENCIOSOS, QUE OPRIMEM, VIOLENTAMENTE, A ALMA E O ESPÍRITO DE MULHERES QUE ESTÃO INSERIDAS EM UMA CULTURA DE AGRESSÃO SEXUAL E ERÓTICA, CONSIDERADA, CULTURALMENTE, NORMAL PELOS HOMENS. DESSA FORMA, O OBJETIVO DESTE ESTUDO É PROPOR UMA REFLEXÃO SOBRE O TRAUMA INSIDIOSO, TENDO COMO REFERÊNCIA O ROMANCE DA NATUREZA DOS DEUSES, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES. O ESTILO NARRATIVO DO AUTOR É FORMADO DE ESTRATÉGIAS AUTOCONSCIENTES QUE EXIGEM HABILIDADES INTERPRETATIVAS DO LEITOR. SUGERE-SE, PORTANTO, DISCUTIR COMO ANTÓNIO LOBO ANTUNES NOS AJUDA A LER AS FERIDAS DAS PERSONAGENS FEMININAS DO ROMANCE, BEM COMO REPRESENTA, DE FORMA CRÍTICA E ESTÉTICA, O TRAUMA EM SUA FICÇÃO, HAJA VISTA A “CRISE DE VERDADE” INSTAURADA NAS VÍTIMAS, CONSTANTEMENTE HABITADAS PELA “IMPOSSIBILIDADE DE DIZER” (CARUTH, 1996).