DESDE OS ANOS DE 1940, ENCONTRA-SE EM CARTAS, MANIFESTOS, POEMAS E NA ELABORAÇÃO ENSAÍSTICA DE MÁRIO CESARINY O REDIMENSIONAMENTO DA ATIVIDADE ARTÍSTICA EM TERMOS DE UM “ANTI-TRABALHO”: UM FAZER TÃO OCIOSO COMO O DO GATO, PERSONAGEM QUE VADIA LIVREMENTE PELA OBRA DO AUTOR DE PENA CAPITAL. MODOS DO ANTI-TRABALHO SURREALISTA, A VAGABUNDAGEM E A VADIAGEM EMERGEM COMO ATIVIDADES DE SAÍDA PARA A RUA, MANEIRAS DE ABERTURA AO ACASO, AO IMPREVISTO E AO NÃO-PREMEDITADO: AO ENCONTRO COM A POESIA. CONCEBIDA NÃO APENAS COMO GESTO VIVO DE LIBERDADE E DE REIVINDICAÇÃO DA LIBERDADE, EXERCÍCIO CORPORIFICADO DE UM FAZER NO MUNDO, A POESIA É TAMBÉM UMA ATITUDE ENCARNADA NUM DETERMINADO CONTEXTO POLÍTICO, MORAL E SOCIAL, CONDENSADA NA DEFESA FERRENHA DO SURREALISMO COMO “UMA REVOLTA CONTRA O MEIO PULVIMERDENTO QUE NOS RODEIA” (CESARINY, 1985, P. 309). PORÉM, SE CHAMOU “POESIA” E “ANTI-TRABALHO” À EXPERIÊNCIA CRIATIVA E À ENTREGA À AVENTURA DA DESCOBERTA, ELE NÃO O FEZ POR UM DESAPEGO À IDEIA DE OBRA. TRATA-SE DE UMA CONCEPÇÃO SEMELHANTE À EXPRESSA POR NICOLAS BOURRIAUD A PROPÓSITO DA RELAÇÃO ENTRE A IDEIA DE TRABALHO E A ARTE MODERNA, A QUAL SE NEGA “A CONSIDERAR O PRODUTO ACABADO E A VIDA A SER VIVIDA COMO SEPARADOS” (BOURRIAUD, 2011, P. 14). PROPOMOS, ASSIM, UMA ANÁLISE DAS CAUSAS E DOS DESDOBRAMENTOS DA RECUSA DA IDEIA DE TRABALHO NO ÂMBITO DO UNIVERSO POÉTICO DE MÁRIO CESARINY, BEM COMO UMA REVISÃO DOS MODOS DE NOMEAR A SUA ATIVIDADE: VAGABUNDAGEM, VADIAGEM, ANTI-TRABALHO, POESIA.