A obra do médico e epistemólogo polonês Ludwik Fleck (1896-1961) tem sido cada vez mais revisitada no campo da Educação em Ciências, servindo de fundamentação para diferentes pesquisas, que buscam operar com suas proposições epistemológicas, dentre estas, os estilos e coletivos de pensamento, além dos conceitos sobre os fatos científicos. Entretanto, a produção epistemológica fleckiana permaneceu, por bastante tempo, obnubilada ou negligenciada, devido a fatores como: dificuldade de compreensão das questões de Filosofia da Ciência no contexto da Medicina; barreiras idiomáticas; e por Fleck não constituir os coletivos de pensamento sobre Epistemologia do período em que viveu. Diante deste cenário, o presente artigo tem como objetivo averiguar de que maneiras Fleck opera com as suas principais noções conceituais em seu primeiro texto epistemológico, publicado em 1927, em que discorre sobre o modo médico de pensar e apresenta algumas discussões sobre a construção do pensamento científico. O texto foi recuperado por estudiosos da obra fleckiana e publicado em língua inglesa. Para a consecução do presente trabalho, de caráter qualitativo, procedemos à leitura do material em inglês e realizamos uma análise interpretativa, descrevendo e discutindo suas principais noções epistemológicas, visto que estas protoideias do autor dialogam com outros momentos de sua produção. O artigo traz ainda uma abordagem a respeito das condições sociais de produção de Fleck e como isto influenciou sua obra, as contribuições da formação obtida na Escola Polonesa de Medicina e as adversidades vivenciadas no contexto da Segunda Guerra Mundial. Mergulhar na produção epistemológica de Fleck, conhecendo mais a fundo suas perspectivas, pelo acompanhamento cronológico de seu amadurecimento como produtor de conhecimentos nos campos da História, Filosofia e Sociologia da Ciência, possibilita um repensar sobre a produção coletiva da ciência, a ciência como constructo humano e o papel da Epistemologia como balizadora e problematizadora dos rumos da ciência.