NA SOCIEDADE PORTUGUESA DO SÉCULO XIX, A MASCULINIDADE DOMINADORA DECLARAVA QUE O FEMININO NÃO POSSUÍA CAPACIDADE DE ESTAR À FRENTE DE QUALQUER SITUAÇÃO DO DIA A DIA NEM TAMPOUCO DE SUAS PRÓPRIAS VONTADES. ISSO LEVOU MUITAS MULHERES A DESBRAVAREM CAMINHOS, ULTRAPASSAREM LIMITES E COLOCARAM, DESSA FORMA, EM QUESTÃO A CONDIÇÃO DE SUPREMACIA DO HOMEM. A PARTIR DESSE CONTEXTO, CONFIGURA-SE A ANTIMASCULINIDADE, TEMA ESTE QUE SERÁ ABORDADO NESSA APRESENTAÇÃO. A ANTIMASCULINIDADE NÃO É SOMENTE UMA MANIFESTAÇÃO CONTRA OS HOMENS OU UM QUESTIONAMENTO DE SEUS DISCURSOS AUTORITÁRIOS E DOMINANTES – É, PRINCIPALMENTE, A MANEIRA COMO AS MULHERES SE IMPÕEM E VIVEM DA FORMA QUE QUEREM E ASSUMEM O CONTROLE DE SITUAÇÕES OUTRORA CONSIDERADAS PERTINENTES SOMENTE A ELES, OS QUAIS, MEDIANTE ESSA RESISTÊNCIA, DESPREZAVAM-NAS, RIDICULARIZAVAM-NAS, ACUSAVAM-NAS COM INDIGNAÇÃO E REVOLTA. EM CONFORMIDADE COM ESSA TEMÁTICA, O QUE PRETENDEMOS DEMONSTRAR É UMA ANÁLISE LITERÁRIA CUJA ELABORAÇÃO PARTE DOS COMPORTAMENTOS DE PERSONAGENS FEMININAS NAS OBRAS DE CAMILO CASTELO BRANCO (1825-1890): A LIBERATA, DE A NETA DO ARCEDIAGO (1856) QUE DE PROSTITUTA SE TRANSFORMA EM UMA AUTÊNTICA HEROÍNA ROMÂNTICA; A MARIA ELISA E A ROSA GUILHERMINA, DE A FILHA DO ARCEDIAGO (1854) QUE VIVENCIARAM AOS OLHOS CONDENADORES DO REGIME PATRIARCAL UMA EXPERIÊNCIA HOMOERÓTICA. NO ENTANTO, NESSES ROMANCES CAMILIANOS, FOI POSSÍVEL PERCEBER QUE O AUTOR APRESENTOU FICCIONALMENTE AÇÕES FEMININAS QUE, SE DIMINUÍRAM A FORÇA DA MASCULINIDADE HEGEMÔNICA, NÃO DEIXARAM DE SOFRER CONSEQUÊNCIAS.